«Tudo está consumado» — são as últimas palavras de Jesus, no relato evangélico segundo João. Jesus cumpre a sua missão. Então, Jesus tinha de morrer crucificado para cumprir a sua missão? Não. Jesus cumpriu a sua missão, porque tornou Deus presente na nossa humanidade. Em Jesus, realiza-se a humanização de Deus. Toda a sua vida foi dedicada à libertação do ser humano. Aproximou-se dos pobres e dos marginalizados; e fez-se um deles. Curou os doentes. Tocou os leprosos. Sentou-se à mesa com os pecadores. Devolveu a dignidade a todos os seres humanos. Disse que os últimos da sociedade são os predilectos de Deus. E, por isso, tornou-se um homem perigoso. Havia que eliminá-lo. «Convém que morra um só homem pelo povo», sugeriu um dos chefes religiosos, que sentia o seu poder ameaçado pelas palavras e gestos de Jesus. Um homem com a atitude de Jesus é sempre uma ameaça ao poder que oprime e ignora os últimos da sociedade. Por isso, esses poderosos tudo fizeram para matar Jesus. E conseguiram. Jesus não é um suicida. Não procura a crucifixão. Nunca quis o sofrimento: nem para os outros; nem para ele. Pelo contrário, Jesus dedicou-se a combater todas as formas de sofrimento: na doença, nas injustiças, no pecado, no desespero. Não podemos continuar a insistir no sofrimento! Não são os açoites, nem os escárnios, nem a coroa de espinhos, nem os cravos, que nos salvam. Ao longo dos tempos — e ainda hoje — muitas pessoas sofreram e continuam a sofrer tanto ou mais do que Jesus. O que nos salva é a atitude de Jesus, ao longo de toda a sua vida: o amor concretizado no serviço aos outros. Enquanto não percebermos a missão de Jesus, nunca nos sentiremos salvos. Jesus poderia ter morrido velho; e teria cumprido a sua missão. O que condiciona o desenlace final de Jesus não é a sua missão. São os os seus opositores. Se os chefes religiosos, em vez de o condenar à morte, tivessem acolhido a mensagem de Jesus, a força salvadora de Jesus teria sido a mesma. A morte na cruz não foi uma negociação entre o Filho e o Pai, para obter a salvação da Humanidade. Infelizmente, são muitos que pensam assim: Deus exigiu a morte cruel de Jesus, como condição indispensável para nos salvar. Será possível acreditar num Deus assim?! Quem se pode sentir amado por um Pai que quer a destruição dos seus filhos?! «A crise de Deus foi desencadeada devido à forma falseada de apresentar Deus e de viver a relação com ele, que se divulgou nas Igrejas cristãs, sobretudo na época moderna» (Juan Martín Velasco). Não é por uma exigência de Deus que Jesus morre na cruz. Jesus morre na cruz, porque Deus nunca deixa de amar e de respeitar a liberdade humana. Mesmo quando os humanos matam o seu Filho muito amado. «Tudo está consumado». Jesus salva-nos porque cumpre a sua missão. Até na não resistência à morte. Esta atitude deixa Pilatos incomodado: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te crucificar?». Por isso, a morte de Jesus é, sobretudo, um argumento definitivo a favor do amor. Ontem reflectimos que Jesus segue à nossa frente... para amar. E, hoje, acrescentamos: Jesus segue à nossa frente... para dar a vida. Na morte, Jesus mostra, sem qualquer margem para a dúvida, que o amor é mais importante do que a própria vida. E assim cumpre a sua missão. Só assim poderemos encontrar o verdadeiro sentido da morte de Jesus. E da nossa salvação.
(Esta reflexão foi elaborada a partir de textos de Fray Marcos e José Antonio Pagola)
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