— Palavra de Deus para domingo e para a trigésima primeira semana —
Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma res¬posta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O.
— Amarás
A pergunta feita a Jesus — «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?» — tem sentido, porque na «Torá» (Lei) contabilizavam-se mais de seiscentos preceitos. Para muitos rabinos, todos os mandamentos tinham a mesma importância. Para outros, o mandamento mais importante era o cumprimento do «Sábado». Para outros, o amor a Deus era o primeiro de todos os mandamentos. Jesus entende muito bem a pergunta. Uma religião que acumula normas e preceitos, costumes e rituais, cai facilmente na dispersão. E perde-se o que é fundamental. Curiosamente, Jesus não cita os mandamentos! Jesus recorda a oração que todas as manhãs pronunciam os judeus: «Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças». Os escribas — e a grande maioria dos judeus daquele tempo — pensam num Deus poderoso e dono de tudo, um Deus que tem todo o poder de mandar. Jesus Cristo revela um Deus que nos fala como amigos. E nos convida a viver em comunhão com ele. O mais importante não é conhecer e cumprir um conjunto de preceitos. O fundamental é escutar Deus e sentir a sua presença, nos acontecimentos da vida. E, quando isto acontece, a nossa vida abre-se ao fundamento da vida: «Amarás». Não se trata de um mero sentimento. Amar a Deus, amar aquele que é a fonte da vida é viver no amor à vida, à criação, às coisas e, sobretudo, às pessoas. Jesus fala de amar «com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças». Amar totalmente. Amar com a vida toda. Sem cálculos. Sem interesses. Na verdade, só se pode amar a Deus desta forma: amando-o presente na criação e de modo especial em cada ser humano. É, por isso, que Jesus acrescenta: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Nem sempre cuidamos deste «mandamento» que nos é confiado por Jesus Cristo. Como é que mostras o amor a Deus através do amor aos irmãos? Caímos facilmente na tentação de confundir o amor a Deus com as práticas religiosas e com o cumprimentos de normas rituais. E ignoramos o amor prático e solidário a todos aqueles que fazem parte da nossa vida: familiares, vizinhos, companheiros da escola ou do trabalho, pobres e marginalizados, doentes, todas as pessoas. Recentemente, o padre José Tolentino Mendonça publicou um livro sobre a teologia da amizade, intitulado «Nenhum caminho será longo» (ed. Paulinas). Este título é retirado de um provérbio japonês: «Ao lado do teu amigo, nenhum caminho será longo». O autor sugere que deixemos de falar de amor e privilegiemos a palavra «amizade». Isto porque parece que a palavra «amor» significa quase tudo; e tudo em abstrato. Enquanto «a amizade é uma forma mais objetiva, mais concretamente desenhada, porventura mais possível de ser vivida». Convida a «organizarmos a nossa relação com Deus em termos de amizade. A amizade pode constituir um modelo criativo para o caminho crente, mesmo que continuemos a falar do amor». Um bom livro, uma boa reflexão, para nos ajudar a concretizar, na vida, a proposta de Jesus Cristo: «Amarás».
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