quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Maria, modelo de fé

 — V Semana Bíblica — segundo dia — Maria, modelo de fé — 


O segundo dia da quinta semana bíblica do arciprestado de Braga foi dedicado à fé em Maria, tendo por base o evangelho de Lucas: «Maria, modelo de fé: ‘Feliz de ti que acreditaste’ (Lucas 1, 45)». Às 21h do dia nove de outubro, com a parte principal do Auditório Vita (Braga) de novo praticamente cheia (cerca de 400 pessoas) o padre Hermenegildo José das Neves Faria fez a sua apresentação tendo por base quatro «partes» do evangelho segundo Lucas: anunciação a Zacarias; anunciação a Maria; visitação de Maria a Isabel; «Magnificat» (Maria entoa um hino de louvor pelas maravilhas de Deus). Estes textos situam-se no primeiro capítulo do evangelho segundo Lucas, entre os versículos cinco e cinquenta e seis.
O primeiro texto, que relata o encontro do anjo com Zacarias anunciando a conceção e nascimento de João Batista, serviu para destacar a incredulidade de Zacarias expressa nas palavras do versículo 18: «Como hei de verificar isso [...]?». O conferencista alertou para o facto de ser estranha a reação de Zacarias, uma vez que ele, tal como a sua esposa, Isabel, cumpriam «irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor» (versículo seis). Ora, Zacarias conhecia a história passada em que se relatam acontecimentos idênticos ao que o anjo lhe comunica: uma mulher estéril de idade avançada é agraciada por Deus e dá à luz um filho. Foram dados exemplos retirados do livro do Génesis em que se percebe a ação de Deus livrando várias mulheres idosas da esterilidade, tal como acontece no caso da esposa de Abraão (Livro do Génesis, capítulo 18, versículos 1 a 15), entre outros. Apesar disso, Zacarias assume a incredulidade. Uma atitude que lhe causa a mudez: «Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria» (versículo 20).
Depois, o padre Hermenegildo Faria, pároco de Real, apresentou o texto da anunciação a Maria, ressaltando as diferenças com o anterior. Desde logo no estilo da narração: enquanto no caso de Zacarias se referem todos os pormenores que rodeiam o acontecimento, no caso de Maria apenas se refere que estava «em casa dela» (versículo 28). A reação de Maria à saudação do anjo mostra que não se tratava de uma saudação típica daquela região: «Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação» (versículo 29). O original grego não sugere tanto a interrogação pelo significado da saudação, mas mais «de onde vinha a saudação», disse o conferencista. Ressaltando de novo a relação entre os textos, elucidou sobre a diferença da proposta: «em Zacarias não havia novidade, pois conhecem-se casos idênticos no Antigo Testamento; mas, em Maria, há novidade na proposta». A última diferença elencada foi a resposta de cada um deles: Zacarias, perante um facto não inédito, assumiu a incredulidade; Maria, perante um facto inédito, assumiu a confiança (fé). Na sequência, a assembleia foi esclarecida sobre os pormenores da atitude de Maria: primeiro há uma tentativa de compreender a proposta («Como será isso [...]?» - versículo 34); depois a aceitação, porque a proposta vem de Deus («porque nada é impossível a Deus» - versículo 37). A partir desta última expressão, o pároco de Real retomou o tema do dia anterior para vincar que a fé é um dom de Deus, uma virtude teologal. A fé não é «motivada por uma evidência extrínseca», mas tem o «único fundamento na autoridade infalível de Deus que revela. [...] Acreditamos ou temos fé, não porque é lógico, mas porque nos é revelado por Deus, que não erra, nem nos engana». Maria acredita, «porque nada é impossível a Deus». Em seguida, o conferencista referiu o contributo das obras de arte que nos ajudam a perceber Maria como modelo de fé: «Grande parte dos artistas, na anunciação, apresenta Maria a ler, com o livro aberto». E relembrou que no dia anterior tinha mostrado a fé representada, numa escultura de Christian Daniel Rauch (1777-1857), por uma pessoa com os olhos colocados no livro aberto. «Maria é mulher e modelo de fé porque escuta, medida, acolhe, interroga e aceita na fé a proposta de Deus. A Deus nada é impossível. Deus faz que coisas novas aconteçam», disse a concluir a reflexão sobre o texto da anunciação a Maria.
O terceiro e quarto textos apresentados relatam a visita de Maria à sua parente Isabel e a oração do «Magnificat» (expressão latina que designa as maravilhas realizadas por Deus), entre os versículos 39 e 56 do primeiro capítulo do evangelho segundo Lucas. Neste relato, o padre Hermenegildo Faria salientou a primeira bem-aventurança do evangelho lucano, que confirma a fé de Maria: «Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor» (versículo 45). Continuando com várias considerações sobre a figura de Maria como modelo de fé, interligou também com as outras virtudes teologais: a esperança e a caridade, tal como já tinha destacado no primeiro dia desta semana bíblica. «Maria ilustra bem as três virtudes teologais: a fé na Anunciação; a esperança no ‘Magnificat’; a caridade na Visitação», disse a concluir a apresentação do tema.
A semana bíblica continua sob a orientação do padre João Alberto Sousa Correia que se vai referir a dois exemplos de percursos de fé no evangelho de Lucas: o cego de Jericó e Zaqueu.

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