1Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, 2como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram "Servidores da Palavra", 3resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, 4a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído.
— V Semana Bíblica — primeiro dia — Lucas, o evangelho provoca a fé — A quinta semana bíblica do Arciprestado de Braga («A fé no evangelho de Lucas»), iniciou-se no dia oito de outubro, às 21h, no Auditório Vita, na cidade de Braga, com a saudação do arcipreste, Cónego Manuel Joaquim, seguida da oração de entronização da Palavra de Deus escrita (Bíblia). Com a parte principal do auditório praticamente cheia (cerca de 400 pessoas), o padre Hermenegildo José das Neves Faria deu continuidade ao encontro com a apresentação do tema «Lucas, o evangelho provoca a fé». Tomando como ponto de partida o prólogo do evangelho segundo Lucas (capítulo 1, versículo 1-4), o conferencista começou por referir a unidade entre o livro do evangelho segundo Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos. Apesar de na Bíblia aparecerem separados pelo quarto evangelho (segundo João), estes dois livros compõem uma unidade. O autor é um cristão da segunda ou terceira gerações. É certo que não conheceu Jesus, pois tal como o próprio refere foi objeto de uma transmissão: «como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares» (versículo 2). O autor do evangelho confessa ter feito uma investigação sobre a pregação e o testemunho dos apóstolos, «servidores da Palavra». O padre Hermenegildo Faria, pároco de Real, chamou a atenção dos presentes para o facto de os apóstolos serem apresentados como «servidores da Palavra», cujo termo, no original grego, é o mesmo de «guardiães». Neste sentido, os apóstolos assumiram a tarefa de guardarem a Palavra que receberam para a transmitirem a outros, tal como veio a acontecer (e continua nos nossos dias). Este ato de transmissão acolhido por Lucas é um ato criativo, que o autor decidiu compor de acordo com a «ordem» que pretendia para alcançar os seus objetivos (versículo 3). Ainda no mesmo versículo, o conferencista explicou que o destinatário da obra de Lucas, chamado de «Teófilo», não é uma pessoa concreta, mas o cristão de todos os tempos. «Teófilo» é a característica de todo aquele que é «amigo de Deus». No versículo quarto do prólogo, o primeiro destaque foi para o termo «solidez». No texto original, a palavra usada é o contrário daquele que caminha em desequilíbrio, como por exemplo o embriagado. Sobre o termo «doutrina» o padre Hermenegildo esclareceu que se trata da «catequese das palavras». Depois, através de várias imagens, procurou esclarecer a assembleia sobre os termos «fides qua» e «fides quae». Tratam-se de expressões latinas para designar a fé de cada pessoa («fides qua») e a fé transmitida pela Igreja («fides quae»). Para aprofundar o tema proposto para este primeiro dia, o conferencista apresentou a fé no contexto das virtudes teologais (fé, esperança e caridade). A fé é considerada uma virtude teologal porque é um dom de Deus. Não é uma virtude intuída apenas pela razão humana, mas consequência de um ato sobrenatural, um dom de Deus ao ser humano. Ela não se opõe à inteligência, mas leva-a à perfeição. «A fé é uma virtude infusa pela qual a inteligência é tornada perfeita por uma luz sobrenatural», esclareceu o pároco de Real. Por isso, a fé não é «motivada por uma evidência extrínseca», mas tem o «único fundamento na autoridade infalível de Deus que revela». E concluiu dizendo: «Acreditamos ou temos fé, não porque é lógico, mas porque nos é revelado por Deus, que não erra, nem nos engana». No final da sua intervenção, fez uma apresentação de várias obras de arte onde está retratado o tema da fé de forma autónoma ou enquadrado nas virtudes teologais. As obras apresentadas foram as seguintes: «Alegoria da fé» de Johannes Vermeer (1632-1675); «A fé» de Innocenzo Spinazzi (1726-1798); «Alegoria do triunfo da Igreja» de Peter Paul Rubens (1577-1640); «Alegoria da fé» de Dirck Jacobsz Vellert (1480-1555); «Alegoria da fé» de Giuseppe Angeli (1712-1798); um quadro de Giovanni Battista Tiepolo (1696-1770); esculturas de Christian Daniel Rauch (1777-1857). As últimas obras apresentadas foram três esculturas de Arcangelo Cascieri (1902-1997) que representam o espírito americano, mas que o conferencista quis ligar com as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), para concluir a sua intervenção no primeiro dia desta semana bíblica. Após um breve período de perguntas e respostas, o arcipreste de Braga concluiu o encontro. No segundo dia, Maria vai ser apresentada como «modelo de fé», a partir do capítulo 1, versículo 45, do evangelho segundo Lucas.
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