quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Advento | Imaculada Conceição | «AVE, CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR ESTÁ CONTIGO»

Na Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, a liturgia propõe-nos, no evangelho, o relato da «Anunciação». Este Advento confronta-nos com a nossa identidade: «Quem somos?». Uma identidade que se descobre – de acordo com o programa pastoral – na escuta atenta da Palavra de Deus. Hoje, esta escuta da Palavra mostra-nos a identidade de Maria: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». O anjo revela «a identidade mais profunda de Maria, o ‘nome’, por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: ‘cheia de graça’» – afirmou Bento XVI (Angelus, 8.12.2010). Explica o Papa: esta expressão «que pronunciamos todas as vezes que recitamos a ‘Ave-Maria’, oferece-nos a explicação do mistério que hoje celebramos. […] Literalmente significa: ‘desde o início cheia do amor de Deus’ da Sua graça». Infelizmente, durante séculos apenas se destacou neste dia que Maria foi concebida sem pecado, isto é, isenta do pecado original. E, ainda pior: promoveu-se Maria a uma categoria totalmente distinta de todos os outros seres humanos; carregou-se em demasia nesta distinção: Maria sem pecado, todos nós (grandes) pecadores! Não é mentira. Mas com isso pode-se conduzir a uma interpretação maniqueísta em que o normal para todo o ser humano é um estado (permanente) de pecado. Como se todo o ser humano nascesse desumanizado! É preciso ultrapassar esta leitura, baseada em interpretações erróneas do texto do Génesis, que escutámos na primeira leitura. Meditemos na explicação dada por Dom António Couto (até agora bispo auxiliar da nossa diocese, e recém-nomeado Bispo de Lamego): «É usual dizer-se que esta conhecida página do Livro do Génesis narra a entrada do mal no coração do ser humano e no mundo. Mas do que se trata mesmo é da importância da relação do ser humano com Deus, e diz-nos que o mal entra no mundo quando o ser humano quebra esta relação e se desliga de Deus. Por isso também, daí para a frente, a Escritura Santa ocupa-se em mostrar que a resposta a dar ao mal não é apenas o bem, mas o santo. Entenda-se: não o ser humano fechado sobre si, auto-suficiente, mas completamente aberto e voltado para Deus, de quem por amor tudo recebe e se recebe. E completamente voltado para os outros, a quem tudo entrega por amor. Como Maria, a figura deste luminoso Dia». A Igreja celebra hoje a identidade de Maria. Mas também celebra a identidade de todos os seres humanos. Porque todos somos chamados a ser imaculados. É São Paulo quem o afirma na Carta aos Efésios escutada na segunda leitura: Em Cristo, Deus Pai «nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença». Todos somos chamados a ser santos! E a tradução latina Vulgata da Bíblia chamada «Vulgata» diz «sancti et inmaculati»: santos e imaculados; e não «irrepreensíveis» como infelizmente nos apresenta a maioria das traduções. Como Maria – e não apenas Maria como podemos erradamente pensar – todos foram escolhidos, antes da criação do mundo, para ser «santos e imaculados». Em Maria, e em todo o ser humano, há um núcleo intocável que nada nem ninguém podem manchar. Porque a graça de Deus em nós será sempre imaculada!

Maria não é uma excepção, mas a norma. Em Maria, descobrimos a identidade de todo o ser humano, a nossa identidade. Ser como Maria não é a meta para todos os cristãos. Ser como Maria é o nosso ponto de partida. Por isso, neste dia da segunda semana de Advento, preparar a vinda do Senhor é cultivarmos a atitude de Maria perante a proposta de Deus. Maria foi uma mulher simples e normal que cumpriu sempre as suas obrigações (como mulher, judia, mãe e esposa). O que nos parece simples e comum é o que temos de imitar. Hoje, também o mensageiro de Deus nos diz: Ave, alegra-te, porque és cheio ou cheia de graça; o amor de Deus está contigo!

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